Ana Paula Tenório – Ascom HEHA
O surgimento da pandemia de Covid-19 causou mudanças na forma de trabalho da maioria dos profissionais de saúde. No Hospital Escola Dr. Helvio Auto, unidade assistencial da Universidade Estadual de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), os profissionais que cuidam da saúde mental absorveram mais uma responsabilidade: além dos atendimentos aos pacientes que já estavam em situação de isolamento, tiveram que trabalhar as próprias equipes de profissionais.
“Antes de recebermos os primeiros pacientes de Covid-19, realizamos várias rodas de conversa com todas as equipes do hospital, para escuta, preparação emocional, além de oferecer um lugar seguro, onde os servidores pudessem demonstrar seus medos, pois eles deveriam estar preparados para acolher pessoas adoecidas, o que demandava uma estabilidade emocional”, explicou o psicólogo Yugo Torquato, facilitador das rodas de conversa.
Por outro lado, alguns pacientes apresentaram muitas dificuldades de adaptação, pois já vinham fragilizados devido ao período de isolamento. Com a impossibilidade de ver a família, os sintomas de transtornos psíquicos aceleram em alguns casos. Nessas ocorrências, a intervenção da Psiquiatria foi fundamental para avaliar a ajuda medicamentosa para tratamento pontual.
A pandemia também trouxe novas práticas ao contexto da saúde mental no ambiente hospitalar. Uma delas foi a adequação da tecnologia disponível às necessidades dos pacientes e familiares. “Ajustamos nossa prática com os atendimentos via tecnologia da informação e comunicação (TICs ), de acordo com a resolução 04/2020 do Conselho Federal de Psicologia (CFP). Implementamos nossa abordagem com as TICs por meio do atendimento individual por telefone, vídeos chamadas com pacientes e familiares e visitas virtuais para amenizar os efeitos emocionais do isolamento e da ausência dos familiares durante o internamento”, pontuou Karina Vasconcellos, coordenadora do Núcleo de Psicologia do HEHA.
Ainda segundo Karina Vasconcellos, “essa forma de atendimento deve permanecer após a pandemia, pois podemos beneficiar os pacientes oriundos do interior que têm dificuldade de transporte, ou ainda oferecer atendimento de forma híbrida, intercalando atendimentos presenciais e por chamada de vídeo”.
A pandemia trouxe aprendizado e novas formas de trabalho. O profissional da Psicologia Hospitalar teve que lidar com seus próprios medos e angústias para cumprir com eficiência seu compromisso laboral. Tudo isso lembra que a manutenção da saúde mental começa em cada um, com os cuidados com o estado emocional, que devem ser um compromisso assumido com a mesma seriedade com que se lida com a saúde física na realização de check-ups e consultas médicas.
Núcleo de Psicologia no HEHA
O Hospital Escola Dr. Helvio Auto foi um dos primeiros hospitais do estado de Alagoas a efetivar o serviço de psicologia hospitalar e cuidado com a saúde mental de pacientes hospitalizados ainda nos anos de 1980, com o perfil do paciente atendido à época, no início da epidemia de HIV/AIDS. Com o passar dos anos foi evidenciada a necessidade de ter profissionais psicólogos nos quadros hospitalares e a Psicologia Hospitalar desenvolveu-se como área de conhecimento da ciência da Psicologia, culminando com a organização das instituições de saúde que conhecemos hoje.
O manejo utilizado por psicólogos agentes da Psicologia Hospitalar são técnicas de Psicologia breve de base focal, uma vez que os pacientes ficam sob internação em períodos diversos e a intervenção deve ser mais pontual, a fim de amenizar o sofrimento psíquico ou emocional causado pelo adoecimento, hospitalização ou até pelo recebimento de um diagnóstico.
Atualmente, o Hospital Escola Dr. Helvio Auto tem um Núcleo de Psicologia, com profissionais que trabalham cobrindo as unidades de internação, ambulatório de doenças infectocontagiosas, Centro de Testagem e Aconselhamento, UTI, Pronto Atendimento, além de algumas intervenções, quando necessário, para atender servidores no Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e Medicina do Trabalho (SESMT).