Projeto de atendimento a vítimas de violência sexual no Hospital Helvio Auto representa excelência em atenção integrada à saúde

Ana Paula Tenório – Ascom HEHA

Atualmente a pessoa que sofre violência sexual em Alagoas tende a procurar primeiramente ou uma delegacia, para abrir um boletim de ocorrência, ou uma unidade de saúde para receber os primeiros atendimentos necessários. Da delegacia a vítima é orientada a procurar o IML para realização de exame, se for mulher, dependendo da idade, é encaminhada à Maternidade Escola Santa Mônica para receber os cuidados necessários à prevenção da gravidez e da Maternidade, finalmente é encaminhada ao Hospital Helvio Auto, referência em Alagoas em doenças infectocontagiosas, onde é realizada a quimioprofilaxia para HIV, hepatites e outras infecções transmitidas sexualmente.

Em outubro de 2013 o Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA), unidade assistencial da Universidade de Ciências da Saúde de Alagoas (Uncisal), fez pela primeira vez uma proposta à Secretaria de Estado da Saúde para a criação de um serviço centralizado e especializado para atendimento às vítimas de violência sexual no Estado. Nessa proposta de serviço estavam inseridos desde o atendimento médico inicial, serviço de coleta de vestígios, a preparação do boletim de ocorrência do crime, cuidados para prevenção da gravidez, quimioprofilaxia para DSTs, acompanhamento psicológico e social, tudo num mesmo local para evitar a exposição desnecessária das vítimas em diversos lugares.

O Hospital Escola Dr. Helvio Auto (HEHA) realiza atendimento às vítimas de violência sexual há mais de 10 anos, disponibilizando a quimioprofilaxia para HIV e outras infecções que podem ser transmitidas por via sexual. Diante de sua atuação nesse atendimento especializado, o HEHA pleiteia a criação de um Serviço 24 horas que aglutine num único local o atendimento humanizado a vítimas de violência sexual (VVS), profilaxia pós exposição sexual (PEP) e tratamento e acompanhamento para profissionais da saúde que foram expostos a material biológico.

Já homens (independente da idade), crianças, idosos, pessoas com deficiência física com dificuldade de acessibilidade e pessoas com deficiência intelectual, vítimas de violência sexual, não dispõem atualmente no Estado de um ambulatório especializado que funcione em plantão de 24 horas para atendê-los no momento que ocorre a violência e posteriormente, para que sejam acompanhados por uma equipe multidisciplinar especializada.

 

Legislação

A lei federal 12.845 de 1º de agosto de 2013 dispõe sobre o atendimento obrigatório e integral de pessoas em situação de violência sexual. Além dessa lei, a portaria do Ministério da Saúde nº 528 de 1º de abril de 2013 definiu as regras para habilitação e funcionamento dos Serviços de Atenção Integral a pessoas em situação de violência sexual no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) que regulamenta o atendimento a mulheres, crianças, adolescentes, homens e idosos, bem como o serviço de interrupção de gravidez  nos casos previstos por lei.

Outra portaria, esta interministerial, de nº 288 de março de 2015, estabelece orientações para a organização e integração do atendimento às vítimas de violência sexual pelos profissionais de Segurança Pública e pelos profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto à humanização do atendimento e ao registro de informações e coleta de vestígios.

Diante de todos esses dispositivos legais, com o funcionamento do Centro Humanizado de Atenção Integrada à Saúde (Cais), o Estado de Alagoas ficaria minimamente em conformidade com a legislação em vigor.

 

Exposição das vítimas

Uma das maiores preocupações de quem trabalha com vítimas de violência sexual é a exposição a situações que aumentem o sofrimento em relação ao trauma. “As pessoas que sofrem violência sexual chegam aqui em situação de pânico, angústia, estresse, tristeza e negação do fato. Além do trauma sofrido, tiveram que passar por vários serviços públicos, descrevendo e revivendo o crime, isso certamente aumenta a angústia das vítimas e familiares. Com todos os serviços centralizados em um só local com equipe especializada e tratamento humanizado, temos como minimizar a dor dessas pessoas num momento tão difícil”, explicou a infectologista Rosileide Alves, diretora técnica-médica do Hospital Helvio Auto e autora da proposta de criação do Centro Humanizado de Atenção Integrada à Saúde (Cais).

Atualmente vítimas de violência sexual são atendidas no Pronto Atendimento do Hospital Helvio Auto juntas aos pacientes de outras patologias

Atualmente vítimas de violência sexual são atendidas no Pronto Atendimento do Hospital Helvio Auto juntas aos pacientes de outras patologias

 

Projeto

Após reapresentar a proposta de criação do Centro Integrado à atual secretária de Estado da Saúde Rozangela Wiszhormiska, foi criada uma comissão para elaboração de um projeto completo que contemplasse toda a proposta. O projeto de criação do Centro foi feito com participação ativa da Direção Geral do Hospital Helvio Auto e coordenado pelo médico da Secretaria de Estado da Saúde, João Facchinetti.

O texto foi apresentado aos gestores das secretarias da Saúde, Rozangela Wyszomirska, da Mulher e dos Direitos Humanos, Roseane Cavalcante e da Secretaria de Políticas sobre Drogas, Jardel Aderico, no gabinete da secretária da Mulher e Direitos Humanos Roseane Cavalcante (Rosinha da Adefal), obtendo uma recepção sensível dos gestores envolvidos.

O local mais indicado para funcionamento do Centro foi o Hospital Helvio Auto, pois já é referência no atendimento de pessoas vitimadas pela violência sexual, pessoas que não praticaram sexo seguro e buscam por profilaxia pós exposição sexual (PEP) e profissionais expostos a material biológico. Além dessas características, ainda dispõe de localização estratégica estando próximo ao Hospital Geral do Estado e ao Instituto Médico Legal.

 

Outros atendimentos

Além do atendimento de todas as vítimas de violência sexual, o Centro Humanizado de Atenção Integrada à Saúde cobrirá o atendimento a pessoas que não utilizaram preservativo no ato sexual realizando o Serviço de Profilaxia Pós Exposição (PEP) que atualmente já é realizado pelo Hospital Helvio Auto.

Profissionais que forem vítimas de acidentes ocupacionais por exposição a materiais biológicos também serão atendidos e acompanhados pelos profissionais do Cais.

 

Parcerias

O projeto também engloba parcerias com diversos órgãos públicos e instituições filantrópicas para as vítimas e também membros de populações vulneráveis (LGBT, índios, quilombolas, negros e idosos), prevendo apoio jurídico por meio da Defensoria Pública, Conselhos Tutelares, OAB e Ministério Público Estadual.